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Dispositivo cultural voltado para a livre expressão dos Inumeráveis Estados do Ser, mediante as atividades ofertadas por seu Programa de Reabilitação Psicossocial JANELA AZUL, que por sua vez, atua com perspectivas socializadoras e inclusivas, ao desenvolver políticas afirmativas de promoção de saúde mental em prol da diversidade de possibilidades culturais.

E-mail: espaconiseong@gmail.com

Telefone Público: (85) 99775-2367

Endereço: Rua Tibúrcio Frota, 1268 , São João do Tauape, 60130-301, Fortaleza, CE

Estado: CE

Município:

CEP: 60130-301

Logradouro: Rua Tibúrcio Frota

Número: 1268

Complemento:

Bairro: São João do Tauape

Descrição

Dispositivo cultural voltado para a livre expressão dos Inumeráveis Estados do Ser, mediante as atividades ofertadas por seu Programa de Reabilitação Psicossocial JANELA AZUL, que por sua vez, atua com perspectivas socializadoras e inclusivas, ao desenvolver políticas afirmativas de promoção de saúde mental em prol da diversidade de possibilidades culturais.
Os Inumeráveis Estados do Ser, concepção de saúde mental reinventada por Nise da Silveira, frente à impossibilidade de tratar da problemática que envolve os transtornos psiquiátricos em saúde mental, sob as perspectivas discriminantes frequentes nos métodos de ciências da natureza. Ao deparar-se com o comentário de Antonin Artaud sobre a pintura do surrealista Victor Brauner, no Cahiers d’Art de 1951: “o ser tem estados inumeráveis e cada vez mais perigosos”, Nise percebeu que a dramaticidade poética de Artaud correspondia a uma imagem mais fidedigna dos mais profundos processos inconscientes se comparada às limitadas enumerações de sintomas agrupados em sistemas de classificação nosográfica.
“Pareceu-me que Artaud referia-se a certos acontecimentos terríveis que podem ocorrer na profundeza da psique, avassalando o ser inteiro. Descarrilhamentos da direção lógica do pensamento; desmembramentos e metamorfoses do corpo; perda dos limites da própria personalidade; estreitamentos angustiantes ou ampliações espantosas do espaço; caos; vazio; e muitas mais condições subjetivamente vividas que a pintura dos internados de Engenho de Dentro tornavam visíveis.” Nise da Silveira. Catálogo da exposição Os inumeráveis estados do ser, 1986.
Tal inteligibilidade situa a loucura não apenas em termos da operacionalidade lógica do pensamento dirigido (intelecto, racionalidade), mas também aponta para sua direta implicação no processo de humanização do tratamento em reabilitação de pessoas em estado de dissociação psicótica. À medida que influenciada por uma fruição estética surrealista, a concepção Os Inumeráveis Estados do Ser considera também a atividade psíquica própria do fantasiar (metafórico, simbólico, imaginativo). Ora, esse processo interessa não somente a estudantes e profissionais de psicologia, de terapia ocupacional e psiquiatria, mas também a artistas e artivistas culturais, sobretudo, militantes da luta antimanicomial.
Paralelamente, acompanhando o advento da reforma psiquiátrica como um resultado positivo do movimento de desinstitucionalização da saúde mental, houve grande reformulação do sistema público de assistência, em apoio às pessoas que apresentam estados de dissociação psicótica. Integrado a este movimento, em iniciativa privada, a instituição não governamental Espaço Cultural Nise da Silveira, através do desenvolvimento do Projeto de Extensão “Imagens do Inconsciente: ações-facilitadores da autoexpressão de pessoas em dissociação psicótica”, ação vinculada ao Programa de Extensão: Círculo de Pesquisas sobre Lógica e Epistemologias das Psicologias (CPLEP/PREX-UFC), propõe-se também a funcionar como um dispositivo que intermedeia o isolamento social resultante dos sintomas dissociativos característicos dos processos psiquiátricos e o desenvolvimento de habilidades sociais por meio de um novo convívio social, ofertando um espaço voltado para a possibilidade de reabilitação psicossocial de egressos de situações ou estabelecimentos psiquiátricos. Dessa forma, a atividade desenvolvida, a partir de ações-facilitadores da autoexpressão dos indivíduos, ofertada pelos profissionais vinculados, com a participação dos estudantes, pretende ampliar as possibilidades educativas socializadoras, mantendo uma atenção orientada para o desenvolvimento do indivíduo, ao considerar, como um importante aspecto constituinte da natureza humana, sua heterogeneidade psíquica, seja manifestada enquanto potencialidades psíquicas realizadoras e/ou, seus respectivos aspectos compensatórios psíquicos inferiores ou patológicos.
“O talento é quase sempre compensado por certa inferioridade em outra parte, e até mesmo pode ser acompanhado às vezes de algum defeito psicopatológico. Nesses casos, torna-se muito difícil decidir se o que predomina é o talento ou a constituição psicopatológica.” C.G.JUNG. O desenvolvimento da personalidade, p. 156, pr. 245.

Tal concepção metodológica, inspirada na nas contribuições da concepção psicológica de C. G. Jung para a Educação e na prática terapêutica-ocupacional aplicada à psiquiatria de Nise da Silveira, compreende que, a partir do vínculo afetivo e da atenção psicológica, também se torna possível ampliar as possibilidades de vazão aos tensionamentos ideoafetivos do indivíduo em seus conflitos, favorecendo a interpessoalidade e as novas formas de ressocialização, desde o nível não verbal, ao utilizar-se de atividades artísticas e técnicas criativas de expressão.
Como efeito do método, ainda que entre frequentes estados de tumulto interior, característicos da dissociação psicótica, é, entrementes, também possível acompanhar o caminho favorável às possibilidades de relação anímica, envolvendo corpo e mente, sentimento, pensamento, sensação e intuição. A intenção prioritária não se trata de transformar doentes em artistas ou produzir obras de arte (o que eventualmente pode ocorrer), mas dar lugar à expressão de conflitos subjetivos a partir das possibilidades propositoras relacionais intrínsecas ao contexto artístico contemporâneo.
O papel das ações culturais é estimular a expressão livre de diversas atividades artísticas ou não-artísticas, mobilizadoras de forças basilares do psiquismo, tais como pintura, modelagem, instalações, dança, representações mímicas, teatro, música e outras não nomeadas, de acordo com o desenvolvimento da criatividade. As atividades facilitam diálogos interpretativos e socializadores, com atenção para as situações de diferenciações psíquicas expressadas. Para o terapeuta, para o cientista ou para o crítico de artes, a atividade criativa observada nos Laboratórios de Expressão define um fazer enigmático. Ao mesmo tempo, revela uma poética singular e o que há de tão misteriosamente humano. “E não menos atento às pontes lançadas em direção ao mundo externo, a fim de dar a essas pontes apoio no momento oportuno.” (Ferreira Gullar, 1996)
Dentre as possibilidades de ações artístico-formativas, em processo de execução, ocorre mensalmente o clube de apreciação e diálogos sobre Cinema, Literatura, Música, Dança, Artes Plásticas e outras Poéticas intitulado PRINCESA CARALÂMPIA. Também mensalmente os CONTOS ANCESTRAIS: APRECIAÇÕES E DIÁLOGOS INTERPRETATIVOS, a partir de leituras dramáticas de contos folclóricos, ancestrais ou mitológicos, acompanhadas de diálogos interpretativos e socializadores. Semanalmente, ocorrem os LABORATÓRIOS DE EXPRESSÃO CRIATIVA, que são atividades propositoras de autoexpressão, através de recursos artísticos diversos, mobilizadores de forças basilares do psiquismo, tais como colagem, desenho, pintura, modelagem, instalações, representações mímicas, performance, teatro, dança, música e outras não nomeadas, de acordo com o desenvolvimento da criatividade. As atividades facilitam diálogos interpretativos e socializadores, com atenção para as diversas possibilidades do fazer humano. Em virtude das medidas preventivas de combate à pandemia do vírus Covid-19, as ações artístico-formativas, estão em processo metalinguístico de habilitação a novos formatos remotos: meios digitais. Por tempo indeterminado, todas as atividades estão sendo executadas em formato de videoconferências.

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Publicado por

Vanessa de Loiola Pinho

Pesquisadora de Arte e Psicologia. Produtora Cultural; Artivista da Luta Antimanicomial; Presidente do Espaço Cultural Nise da Silveira; Psicóloga Analista; Supervisora Clínica; Membro Círculo de Pesquisas Sobre Lógica e Epistemologia das Psicologias; Produtora Cultural. Concluiu o Curso de Princípios Básicos em Teatro (CPBT/2016-Theatro José de Alencar).

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